No final da tarde desta terça-feira (03), o fenômeno conhecido popularmente como “sol vermelho”, foi observado em Natividade e diversas cidades da região, gerando curiosidade em inúmeras pessoas.
Mas enfim, qual seria a causa desta bela visão?
O céu alaranjado visto em diversas regiões do Brasil nas últimas duas semanas pode até parecer bonito, mas é resultado direto da poluição e das queimadas que persistem há semanas, impactando a saúde pública e a agricultura.
Essa coloração é um reflexo da intensa poluição atmosférica, em grande parte causada pelas queimadas nas regiões da Amazônia, Pantanal e Sudeste. A explicação é do professor Micael Amore Cecchini, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.
A cor alaranjada do Sol é resultado de um processo chamado espalhamento da luz, intensificado pela presença de partículas na atmosfera. O Sol emite luz em todas as cores, mas, ao atravessar a atmosfera, a luz azul é mais dispersa, dando ao céu sua tonalidade habitual.
Em situações normais, vemos o astro como uma esfera levemente amarelada, pois as cores quentes, como o vermelho e o laranja, são menos dispersas. No entanto, a presença massiva de partículas de fuligem e poluentes, oriundos principalmente das queimadas, intensifica esse espalhamento, fazendo com que o Sol pareça alaranjado.
As queimadas têm se concentrado em áreas extensas da Amazônia e Pantanal, além de ocorrências significativas no estado de São Paulo. Cecchini destaca que as queimadas na Amazônia são particularmente graves, com grandes quantidades de fumaça sendo carregadas pelos ventos em direção ao Centro-Oeste e Sudeste.
Ele acrescenta que o fenômeno é exacerbado pela ausência de frentes frias, que poderiam dissipar a fumaça. “Essas partículas permanecem na atmosfera por mais tempo em dias secos e sem chuvas, o que explica a persistência do Sol alaranjado”, explica Cecchini.
O impacto desse fenômeno, que, segundo o especialista, vem ocorrendo há pelo menos duas semanas ininterruptamente, vai além da coloração do Sol, afetando diretamente a saúde pública e a agricultura. A presença de partículas tóxicas no ar, como as provenientes das queimadas, pode causar sérios problemas respiratórios.
“É como se estivéssemos fumando um cigarro”, alerta Cecchini, referindo-se à inalação de partículas de carbono e outros compostos nocivos. Além disso, a redução da intensidade da luz solar devido à poluição pode comprometer o ciclo de crescimento de culturas agrícolas, que dependem de alta insolação.
Embora o fenômeno não seja causado diretamente pelas mudanças climáticas, há uma conexão indireta. O aumento na frequência de dias quentes e secos favorece as queimadas, que por sua vez intensificam a poluição e o efeito do Sol alaranjado. Cecchini ressalta que essa condição reflete os desafios ambientais enfrentados pelo Brasil, especialmente em um contexto de desmatamento crescente.
O professor menciona que o fenômeno da Lua avermelhada, que ocorre durante um eclipse lunar, é semelhante ao que causa o sol alaranjado, envolvendo o espalhamento da luz na atmosfera. Ele explica que, durante um eclipse, a Lua aparece avermelhada porque a luz solar passa pela atmosfera da Terra, onde a luz azul é dispersa, deixando as cores vermelhas e alaranjadas mais visíveis.
Ele também menciona que a poluição pode afetar a coloração da Lua, embora não tenha detalhado como a poluição cotidiana (fora do contexto de um eclipse) poderia influenciar a aparência do satélite. Ele observa que a menor luminosidade da Lua pode fazer com que o impacto da poluição seja menos perceptível do que no caso do Sol, mas o princípio físico subjacente permanece o mesmo.
Fonte: UOL